"Vocês não sofrem o que nós estamos sofrendo", diz enfermeira
Num desabafo emocionado e angustiado em suas redes sociais, a enfermeira Lise Menezes, que está atuando na linha de frente no combate à Covid-19, em Natal, expôs a dificuldade e pressão que estes profissionais vêm passando.
Ela relata o desgaste físico e mental, o descaso da população com as medidas de isolamento social e a desvalorização da profissão, o que traz a sensação de desamparo que estão vivendo. "Estamos estafados, estressados, carentes, doentes e desamparados em vários aspectos", narra.
Leia abaixo:
A enfermeira Lise está vivenciando o avanço da doença em Natal/RN (Foto: Instagram pessoal) |
Não! Vocês não sabem como é! Vocês não tem noção de como é! Vocês não sofrem o que nós estamos sofrendo! Vocês não passam o que estamos passando! Estar na linha de frente de uma guerra é realmente tenso, e ninguém foi preparado pra estar aqui! Ninguém foi preparado pra viver “dentro” do COVID 19. Nós não escolhemos estar aqui, mas escolhemos a profissão, essa nossa, tão necessária, e totalmente desvalorizada!!! Nossas famílias não foram, nossos filhos não foram e sofrem mais que a gente em não poder ter a gente! Nossos amigos não pensam na gente, e nossa saúde física e mental também não tem ajudado muito a gente!
Sim, estou repetindo muito as palavras, porque assim tem sido nossa vida dentro literalmente desse novo mundo, repetição! Repetição no aumento de casos, repetição no aumento de mortos, repetição do #FiqueEmCasa e #UseMáscara que a maioria não usa e não faz! Queríamos nós podermos estar em casa quarentando também! O pedido de #FiqueEmCasaPorNós realmente não faz sentido pra quem não teve um amigo, um parente ou seus colegas de trabalho doentes, como nós tivemos, e temos!
Nossa saúde mental esta quase no topo de ruir, muita gente já caiu, e não, não caíram por querer, acredite! Estamos estafados, estressados, carentes, doentes e desamparados em vários aspectos, mas continuamos aqui, na frente da trincheira, ouvindo os gritos de comandos, os de agonia, os de chefia, os que angustia. E a pergunta que eu e provavelmente meus colegas que estão no mesmo barco deve ser só uma: Até quando? Até quando “aguentaremos”.?! Sim, nós cairemos. E uma coisa digo, o boom, agora que começou!