Punir LGBTfobia apenas nos bolsos não é a solução para acabar com o preconceito no esporte

420 cadeiras do Mineirão cobertas com as cores LGBT remetem
ao número de mortos no Brasil por homofobia em 2018
(Foto: Pedro Vilela/ Agência i7)

Em plena Copa América, uma punição inesperada para a CBF. No jogo de estreia da seleção brasileira, realizado no Morumbi, gritos de "BICHA" resultaram em R$ 57 mil a menos para a entidade.

BICHA. Aquele grito que fazem a cada tiro de meta do goleiro adversário. Uma palavra que parece ser mais ofensiva do que qualquer outro palavrão que é proferido a cada minuto em um jogo de futebol. Costume que veio de fora e foi adotado pela torcida brasileira, de todos os clubes, sem necessidade alguma.

Ora, o que vai mudar no resultado ou no desenrolar do jogo chamar um jogador de bicha? Absolutamente nada. Qual o sentido, então, desse grito uníssono? Apenas ofender. Há anos, chamar alguém de gay ou viado em meio ao mundo esportivo é uma coisa que pode mexer com o "orgulho" do adversário. Que vergonha ainda sinto desse pensamento.

O mundo esportivo é pura diversidade. Diversos em modalidades, em características de atletas, em visões de jogo, em comportamentos de torcida, até mesmo diferente em emoções. Mas a cada novo grito como este, um atleta se sente ainda mais oprimido. Se assumir dentro do esporte? NUNCA!

Vivemos, dentro do esporte, a representação de uma sociedade adoentada... Que vê o assédio como coisa comum, que diminui mulheres, negros e LGBTs em rápidas palavras, que podem parecer inofensivas e brincalhonas para uns, mas tem consequências severas. A morte por preconceito é uma delas.

Se você sair do armário em qualquer modalidade, isso pode te custar espaços de trabalho. Se você sair do armário, sua "bicha encubada", você vai perder patrocínios. Vai perder a admiração dos torcedores do seu país. Vai encarar?

É por isso que apesar de parabenizar as punições feitas em dinheiro, sei que NADA terá mais valor do que duas coisinhas: respeito e educação. De nada adianta multar clubes e entidades, sem conscientizar o torcedor de que aquela conduta não é bem vinda.

Por isso que cada atleta assumido, hoje em dia, é importante para o esporte. Da mesma maneira em que iluminar um estádio com as cores que representam a diversidade também é um recado.

O dinheiro entra e sai dos bolsos do clube. O preconceito fica anos e anos, impedindo alguém de ser feliz apenas pelo que é.

*Larissa Maciel é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), é mossoroense, repórter e apresentadora da TCM Telecom e 95 FM, crescida entre fãs de esporte, jornalista por vocação e analista de esporte por amor à esta área da profissão em específico. 


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