Mulheres preparam greve internacional neste 8 de março


Acampada contra a violência machista na Porta do Sol de Madri.
 EFE
Cento e sessenta e nove anos. Sim, 169. É o tempo que falta para que se alcance a igualdade econômica entre homens e mulheres, uma das variáveis mais mensuráveis do desequilíbrio de gênero. Em pleno 2017, uma radiografia da situação ainda mostra um mundo opressivamente desigual; um planeta que discrimina metade de seus habitantes e no qual elas são muito mais vulneráveis. Em que a cada 10 minutos uma mulher é assassinada por seu companheiro ou ex-companheiro e uma de cada três sofreu uma agressão sexual. Onde recebem menos que seus colegas homens por um trabalho de igual valor e ainda há países que impedem que as casadas tenham passaporte próprio. Por isso, organizações de todo o mundo fizeram um chamado por uma greve no trabalho (parcial, em alguns casos) e suspensão total de consumo e de cuidados no 8 de março, Dia Internacional da Mulher. E também para que se manifestem para reivindicar igualdade real.

Sob o lema #grevedemulheres #womenstrike, programaram paralisações e mobilizações em mais de 46 países, com especial força na América Latina, um subcontinente com graves problemas de violência contra as mulheres e onde, em razão do movimento Ni uma menos(Nem Uma A Menos), a luta pela igualdade ganhou força.

No 8 de março há pouco a celebrar e muito por que lutar, afirma Malgorzata Jonczy Adamska, psicóloga e pedagoga de origem polonesa que vive na Noruega e que, como muitas de suas companheiras, vai apoiar a paralisação. “Toda mulher e menina tem que ter direito à educação, a uma vida sem violência, acesso a anticoncepcionais seguros e baratos e ao aborto seguro”, insiste. Essa reivindicação deveria soar como algo antigo, mas não é assim. Sobre a mesa, a cifra dos assassinatos machistas, o indicador mais extremo da desigualdade de gênero. No Brasil, 13 mulheres são assassinadas por dia. Na Argentina matam uma mulher a cada 30 horas. Na Alemanha são mais de 300 os crimes machistas por ano.

Apesar de terem ocorrido avanços, ainda há países que não possuem uma legislação específica sobre violência contra a mulher. Ou que, como a Rússia, deram um passo atrás: o país descriminalizou parte desse tipo de agressão, apesar de a violência machista ser ali um gravíssimo problema. “Temos o direito de viver tranquilas, sem nos preocuparmos com nossa roupa nem nossos costumes, e eu me nego a aceitar qualquer tipo de maus-tratos machistas”, reclama a ativista russa Tatiana Sukharev, uma das organizadoras da greve no país.

Em pleno século XXI, as paquistanesas casadas não podem registrar um negócio sem a permissão do marido. Nem as congolesas, que, como as nigerinas, também não podem abrir uma conta de banco sem a assinatura de seu cônjuge: a mesma discriminação que enfrentaram as mulheres espanholas durante o franquismo. No Afeganistão, Malásia, Omã, Arábia Saudita, Iêmen e outros 12 países a mulher não pode viajar para o exterior sem a permissão do marido. Em 32 países, as mulheres casadas nem sequer podem ter passaporte próprio (Mali, Jordânia, Iraque, entre outros). Na Bolívia, Camarões e Guiné existem leis que estabelecem que as mulheres casadas precisam da permissão dos maridos para assinar um contrato de trabalho. Em lugares como o Líbano não podem transferir sua nacionalidade aos filhos.

A radiografia é extensa, e continua. Mais de 50 milhões de meninas não vão à escola no mundo –a maioria delas em países da África, segundo dados da Unicef–, um direito fundamental, sem o qual seu futuro estará gravemente limitado. E embora em alguns países o acesso tenha melhorado e as barreiras estejam sendo derrubadas, outros interpõem duros obstáculos no caminho para a igualdade. Como a Serra Leoa e a Guiné Equatorial, onde uma lei proíbe as garotas grávidas de irem as escolas pois podem “contagiar” suas companheiras. Neste último país chegam até a obrigar as menores a se submeterem a um teste de gravidez para poderem se matricular. Em outras nações, essas barreiras não são legais, mas as menores grávidas são tão gravemente estigmatizadas que acabam abandonando a escola. E a imensa maioria nunca volta.

Um duplo castigo em um mundo no qual mais de 220 milhões de mulheres em idade reprodutiva e que convivem com seus parceiros não têm acesso a métodos contraceptivos modernos, embora não desejem engravidar, segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). O aborto é ainda proibido em mais de dez países (cinco deles na América Latina) e os ataques ao direito de a mulher decidir sobre a maternidade não só não cessam, mas recrudesceram.

Os dados não enganam. Em nível mundial, as mulheres só ganham 77 cêntimos para cada dólar recebido pelos homens por um trabalho de igual valor, segundo dados da ONU. Algo que, de acordo com essa organização, é a causa fundamental da desigualdade em termos de renda ao longo de toda a vida. E também da diferença nas aposentadorias. A desigualdade, a discriminação se mantêm até o último momento.

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